segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Esconjurados pela indecência


quero sentir as tuas unhas cravadas nas minhas costas
como uma suplica de um templo inexistente
onde a Besta me possui e eu deliro
num carrossel de espelhos malditos
onde os nossos corpos se perdem esfaimados
condenados pelas línguas empoleiradas
que nos olham insaciáveis de escrúpulos
queima-me nos teus braços, é lá que eu quero arder
nos gritos dos nossos gemidos
esconjurados pela indecência insalubre
da insalubridade dos dogmatizados
não quero mais calar a voz de quem me cala
não beberei mais espinhos a sangue frio
porque o sabor da rosa que beijamos é o mesmo
quero sentir o humedecer da terra
e sublimar-me no lívido do teu corpo
como uma orquídea selvagem

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

adormeço nas brumas do rio...




Ameiga este corpo, débil e cansado,
que se curva sobre o teu leito.

Já não consigo humedecer
o barro com que trabalhei,
a forma escultural do teu ser.

As minhas mãos já não conseguem sentir
a pureza das máculas que as enfraquecem.

Já pertenço ao lamaçal, abraça-me!

Sempre te pertenci sem pertença alguma,
moldei-te, cresci contigo, floresci da terra
e hoje adormeço nas brumas do rio.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Lamento de uma guitarra


A visão nega-me o ensejo da luz sadia
em cera queimada, já sem pavio.
Pudera eu ser a razão
de uma razão qualquer errante.

Deixem-me aqui quieta
no medo que já não me amedronta
onde as candeias se apagam à noite,
no lamento de uma guitarra.

…pudera eu ser o que já fui
sem ser o que não mais serei…

Deixem-me aqui
onde o meu fado mora também.
Onde o silêncio sente e escuta
este sentir, vazio de ninguém.